Enxergando com outros olhos

by - julho 23, 2020

"O jardim de Gabriel" (colagem digital)


De vez em quando, Deus envia anjos à terra. Eles vêm com os mais variados dons para nos ensinar um outro modo de ver a vida.

Foi assim que mais um Gabriel veio ao mundo. Era alegre, inteligente, bonito como todas as crianças são. Ele nasceu cego e aprendeu a “enxergar o mundo” pelo ponto de vista dos que o cercavam.

  ̶  Como é o sol, vovó?- perguntou.

 ̶  Ah, meu bem, é muito quente, escaldante. Deixa a gente com preguiça de tudo...

  ̶  É mesmo? Eu pensava que fosse diferente. Eu sinto um calor gostoso quando ele sai. Tenho vontade de nadar, chupar picolé e me sinto bem. Mas, se você diz que é assim...

Certo dia, perguntou ao pai:

 ̶   Papai, como é a chuva?

 ̶  Nossa, filho! É necessária, mas causa um transtorno: enchentes, atrapalha o trânsito e a vida de quem é atarefado, como eu.

 ̶   Ué, então tá. Sempre que chove, sinto cheiro de bolino de chuva e do café quentinho que a mamãe faz. Adoro dormir com o barulhinho da chuva caindo na janela!

O garoto não se cansava de perguntar. Era a sua forma de aprender, de conhecer:

 ̶  Mamãe, como são os pássaros?

 ̶  São bonitos, coloridos, filho. Mas, dentro das gaiolas, apenas. Soltos, eles são sujos e agressivos.

 ̶  Engraçado... todos os dias, à tarde, quando ouço a revoada de pássaros, fico tão feliz!

Gabriel, então, começou a se sentir diferente dos outros. Parece que a sua forma de “ver” as coisas estava errada. Tudo o que diziam que era ruim ele achava que era bom.

Um dia, o menino percebeu uma movimentação diferente na casa ao lado. Estava fechada, há muito tempo, e ali não morava ninguém.

 ̶  Mamãe, que barulho é esse?

 ̶  É o novo vizinho, filho. Disseram que é um senhor distinto, filósofo.

  ̶  O que é um filósofo?

Esta pergunta ficou sem resposta. A mãe do pequeno curioso saiu apressada para preparar o almoço. E ele ficou com aquela interrogação saltitando na cabeça, durante a tarde toda.

 ̶  Vovó, o que é um filósofo?

 ̶  Não sei, meu bem.

Porém, Gabriel não se deu por satisfeito. Indagou o pai:

 ̶  Papai, o que é um filósofo?

 ̶  Ah, filho, é alguém que estuda muito.

 ̶  Sobre o quê?

E mais uma interrogação rodopiava. O pai saiu depressa, deixando-o sem resposta. O menino foi dormir cheio de sonhos e de motivação para aprender mais, no dia seguinte.

Pela manhã, ao brincar no jardim, ouviu alguém dizer:

  ̶  Olá! Vejo que também gosta de plantas. O meu nome é Dimas, sou o novo vizinho.

 ̶  Oi, seu Dimas, estava doido para te encontrar! – disse, radiante.

O velho sorriu e disse:

 ̶  Então, em que posso ajudar?

 ̶  A minha mãe disse que o senhor é filósofo. O que um filósofo faz? Ah, o meu nome é Gabriel.

 ̶  Um filósofo é alguém que pensa sobre as coisas, as pessoas, o tempo, e tenta ajudar o mundo com suas respostas.

 ̶  Hum, entendi! Então o senhor é bom em dar respostas?

 ̶  Eu tento, pelo menos.

 ̶  Que bom, porque eu sou bom em fazer perguntas!

 O garotinho lhe contou sobre o seu jeito de “enxergar” a vida e sobre como os adultos a enxergavam.

 ̶  O jeito como eu “enxergo” é errado?

 ̶  Gabriel, cada um tem um modo de ver a vida. Não existe certo e errado quando se trata disso. Apenas diferente. Vou te dar um exemplo. Hoje, para mim, o dia está mais tristonho, nublado. O sol, quando não aparece, deixa tudo mais triste. E para você, como o dia está?

 ̶  Para mim o dia não está triste. Não vejo o sol, mas sinto a brisa que me deixa leve e me dá vontade de tomar chocolate quente. Tudo isso me deixa feliz!

 ̶  Viu só? Cada um vê de uma maneira. Uns são mais tristes, outros felizes. Cada um com suas ideias. Porém, isso não significa que as pessoas serão sempre iguais. Elas podem mudar.

 ̶  Sei... – disse, atento.

A partir daquele momento, Gabriel passou a entender que o seu modo de “ver” não era errado e sim, feliz. Decidiu que levaria sua felicidade e a sua forma divertida de “ver” a todos que estivessem entristecidos. Resolveu ensinar a todos como “enxergar” a vida com outros olhos.


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