Enxergando com outros olhos
"O jardim de Gabriel" (colagem digital) |
De vez em quando, Deus envia anjos
à terra. Eles vêm com os mais variados dons para nos ensinar um outro modo de
ver a vida.
Foi assim que mais um Gabriel veio
ao mundo. Era alegre, inteligente, bonito como todas as crianças são. Ele
nasceu cego e aprendeu a “enxergar o mundo” pelo ponto de vista dos que o
cercavam.
̶ Como é o sol, vovó?- perguntou.
̶ Ah,
meu bem, é muito quente, escaldante. Deixa a gente com preguiça de tudo...
̶ É mesmo? Eu pensava que fosse
diferente. Eu sinto um calor gostoso quando ele sai. Tenho vontade de nadar,
chupar picolé e me sinto bem. Mas, se você diz que é assim...
Certo dia, perguntou ao pai:
̶ Papai,
como é a chuva?
̶
Nossa, filho! É necessária, mas causa um transtorno: enchentes,
atrapalha o trânsito e a vida de quem é atarefado, como eu.
̶ Ué, então tá. Sempre que chove, sinto cheiro
de bolino de chuva e do café quentinho que a mamãe faz. Adoro dormir com o
barulhinho da chuva caindo na janela!
O garoto não se cansava de
perguntar. Era a sua forma de aprender, de conhecer:
̶ Mamãe,
como são os pássaros?
̶ São
bonitos, coloridos, filho. Mas, dentro das gaiolas, apenas. Soltos, eles são
sujos e agressivos.
̶
Engraçado... todos os dias, à tarde, quando ouço a revoada de pássaros,
fico tão feliz!
Gabriel, então, começou a se
sentir diferente dos outros. Parece que a sua forma de “ver” as coisas estava
errada. Tudo o que diziam que era ruim ele achava que era bom.
Um dia, o menino percebeu uma
movimentação diferente na casa ao lado. Estava fechada, há muito tempo, e ali
não morava ninguém.
̶
Mamãe, que barulho é esse?
̶ É o
novo vizinho, filho. Disseram que é um senhor distinto, filósofo.
̶ O que é um filósofo?
Esta pergunta ficou sem resposta.
A mãe do pequeno curioso saiu apressada para preparar o almoço. E ele ficou com
aquela interrogação saltitando na cabeça, durante a tarde toda.
̶ Vovó,
o que é um filósofo?
̶ Não
sei, meu bem.
Porém, Gabriel não se deu por
satisfeito. Indagou o pai:
̶
Papai, o que é um filósofo?
̶ Ah,
filho, é alguém que estuda muito.
̶ Sobre
o quê?
E mais uma interrogação rodopiava.
O pai saiu depressa, deixando-o sem resposta. O menino foi dormir cheio de
sonhos e de motivação para aprender mais, no dia seguinte.
Pela manhã, ao brincar no jardim,
ouviu alguém dizer:
̶ Olá! Vejo que também gosta de
plantas. O meu nome é Dimas, sou o novo vizinho.
̶ Oi,
seu Dimas, estava doido para te encontrar! – disse, radiante.
O velho sorriu e disse:
̶
Então, em que posso ajudar?
̶ A
minha mãe disse que o senhor é filósofo. O que um filósofo faz? Ah, o meu nome
é Gabriel.
̶ Um
filósofo é alguém que pensa sobre as coisas, as pessoas, o tempo, e tenta
ajudar o mundo com suas respostas.
̶ Hum,
entendi! Então o senhor é bom em dar respostas?
̶ Eu
tento, pelo menos.
̶ Que
bom, porque eu sou bom em fazer perguntas!
O garotinho lhe contou sobre o seu
jeito de “enxergar” a vida e sobre como os adultos a enxergavam.
̶ O jeito
como eu “enxergo” é errado?
̶
Gabriel, cada um tem um modo de ver a vida. Não existe certo e errado
quando se trata disso. Apenas diferente. Vou te dar um exemplo. Hoje, para mim,
o dia está mais tristonho, nublado. O sol, quando não aparece, deixa tudo mais
triste. E para você, como o dia está?
̶ Para
mim o dia não está triste. Não vejo o sol, mas sinto a brisa que me deixa leve
e me dá vontade de tomar chocolate quente. Tudo isso me deixa feliz!
̶ Viu
só? Cada um vê de uma maneira. Uns são mais tristes, outros felizes. Cada um
com suas ideias. Porém, isso não significa que as pessoas serão sempre iguais.
Elas podem mudar.
̶
Sei... – disse, atento.
A partir daquele momento, Gabriel
passou a entender que o seu modo de “ver” não era errado e sim, feliz. Decidiu
que levaria sua felicidade e a sua forma divertida de “ver” a todos que
estivessem entristecidos. Resolveu ensinar a todos como “enxergar” a vida com
outros olhos.
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