Uma e meia

by - maio 21, 2022

  

Era uma vez uma dona de casa muito prendada que resolveu ganhar dinheiro fazendo o que mais gostava: cozinhar.

A coisa começou devagar... fez uma marmita para um conhecido, para outro e, quando viu, a fama (boa) já tinha se espalhado.

E como era de se esperar, a prendada Dona Maria, que já era um pouco nervosa por natureza, digamos assim, viu o seu nível de stress subir a cada dia.

− Se for pegar comida antes do horário, liga mais cedo avisando! Ah... se for pegar comida a mais, também! −  dizia ela a um de seus fregueses.

E assim seguia a sua vida, de segunda-feira a sábado, naquela agitação matinal que virou rotina.

Na hora de cobrar a conta, ela tinha uma notinha na qual anotava os dias e quantidades de comida que o freguês pegou. Uma organização que só vendo!

− Neste dia aqui eu vou te cobrar só meia (marmita), porque você pegou menos comida, tá?- dizia ela.

E a rotina seguia o seu curso natural. Mas um dia, aconteceu algo atípico, por assim dizer.

Eram 10h30min. Dona Maria já estava na cozinha preparando a comida, pois 10h (em ponto!) era a hora de começar o almoço. O telefone tocou.

Ela, já com o nervosismo matinal, correu para atender ao telefone – “Isso é hora de ligar?” − pensava.

− Alô!

 Dona Maria? – dizia a voz calma do outro lado.

 Ah... oi, Neusa.

 Eu te liguei mais cedo porque hoje só vou pegar uma e meia.

− O quê? Espera só um pouquinho que eu vou trocar de telefone... este aqui está muito baixo.

Dona Maria segue apressada para o quarto onde ficava a extensão do telefone, preocupada com a comida no fogão:

 Pode falar, Neusa!

 É que hoje eu só vou pegar uma e meia...

 Uma e meia? Tá bom!

E desligou o telefone, saindo direto para a cozinha. – “Vê se pode? Comecei a comida hoje mais cedo só por causa dela. Que raiva!” −  pensava, enquanto refogava o arroz.

Dona Maria preparava as marmitas e, quando o relógio da cozinha marcava 12h15, a campainha toca. Ela, que já tinha acabado de preparar todas elas, sai para atender a porta, deixando o pano de prato em cima da mesa da copa. Enrola-se com a chave da porta e, quando finalmente consegue abri-la, fica perplexa.

 Neusa???

 Oi, Dona Maria! Tem comida para mim, aí?

Controlando toda a raiva que teimava em sair, Dona Maria disse:

 Mas você não falou que só vinha “13h30min”?

 Não, Dona Maria! Eu disse que iria pegar uma (marmita) e meia.

− Mas eu já fiz todas as marmitas e não tem mais comida sobrando! Como é que faz?

− Mas eu achei que a senhora tivesse entendido... mas, ah! Não tem problema! Eu levo a minha do jeito que está.

Dona Maria entrega, então, a marmita a Neusa.

 Obrigada, Dona Maria. Tchau! −  fala Neusa, calmamente.

E... quer saber o final da história? Ficou por isso mesmo.

 

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