Uma e meia
Era uma vez
uma dona de casa muito prendada que resolveu ganhar dinheiro fazendo o que mais
gostava: cozinhar.
A coisa
começou devagar... fez uma marmita para um conhecido, para outro e, quando viu,
a fama (boa) já tinha se espalhado.
E como era
de se esperar, a prendada Dona Maria, que já era um pouco nervosa por natureza,
digamos assim, viu o seu nível de stress subir a cada dia.
− Se for
pegar comida antes do horário, liga mais cedo avisando! Ah... se for pegar
comida a mais, também! − dizia ela a um
de seus fregueses.
E assim
seguia a sua vida, de segunda-feira a sábado, naquela agitação matinal que
virou rotina.
Na hora de
cobrar a conta, ela tinha uma notinha na qual anotava os dias e quantidades de
comida que o freguês pegou. Uma organização que só vendo!
− Neste dia
aqui eu vou te cobrar só meia (marmita), porque você pegou menos comida, tá?-
dizia ela.
E a rotina
seguia o seu curso natural. Mas um dia, aconteceu algo atípico, por assim
dizer.
Eram
10h30min. Dona Maria já estava na cozinha preparando a comida, pois 10h (em
ponto!) era a hora de começar o almoço. O telefone tocou.
Ela, já com
o nervosismo matinal, correu para atender ao telefone – “Isso é hora de ligar?”
− pensava.
− Alô!
− Dona Maria? – dizia a voz calma do outro lado.
− Ah... oi, Neusa.
− Eu te liguei mais cedo porque hoje só vou
pegar uma e meia.
− O quê?
Espera só um pouquinho que eu vou trocar de telefone... este aqui está muito
baixo.
Dona Maria
segue apressada para o quarto onde ficava a extensão do telefone, preocupada
com a comida no fogão:
− Pode falar, Neusa!
− É que hoje eu só vou pegar uma e meia...
− Uma e meia? Tá bom!
E desligou o
telefone, saindo direto para a cozinha. – “Vê se pode? Comecei a comida hoje
mais cedo só por causa dela. Que raiva!” − pensava, enquanto refogava o arroz.
Dona Maria
preparava as marmitas e, quando o relógio da cozinha marcava 12h15, a campainha
toca. Ela, que já tinha acabado de preparar todas elas, sai para atender a
porta, deixando o pano de prato em cima da mesa da copa. Enrola-se com a chave
da porta e, quando finalmente consegue abri-la, fica perplexa.
− Neusa???
− Oi, Dona Maria! Tem comida para mim, aí?
Controlando
toda a raiva que teimava em sair, Dona Maria disse:
− Mas você não falou que só vinha “13h30min”?
− Não, Dona Maria! Eu disse que iria pegar uma
(marmita) e meia.
− Mas eu já
fiz todas as marmitas e não tem mais comida sobrando! Como é que faz?
− Mas eu
achei que a senhora tivesse entendido... mas, ah! Não tem problema! Eu levo a
minha do jeito que está.
Dona Maria
entrega, então, a marmita a Neusa.
− Obrigada, Dona Maria. Tchau! − fala Neusa, calmamente.
E... quer
saber o final da história? Ficou por isso mesmo.
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